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De cervejeiro caseiro a supervisor de produção [entrevista]

Bate papo com Pedro Montes, responsável pela supervisão do chão de fábrica da Cruls


Por Mateus Vidigal

Para a segunda entrevista do Blog da Cruls, resolvi conversar com o Pedro Rafael Montes, 29, mais conhecido como Montes, supervisor de produção da cervejaria.


E, durante nossa conversa, batendo as datas, percebi que, em menos de dez anos, Montes saiu de alguém que não conhecia cerveja artesanal para alguém que é supervisor de produção de uma fábrica com 42 mil litros de adega.


Para que isso acontecesse, foi preciso muito estudo e muita experiência.


O Montes é formado em Química Tecnológica (também chamada de Química Industrial) pela Universidade de Brasília (UnB), em Tecnologia em Processos Cervejeiros e sommelier de cervejas.


O ponto de partida para essa história toda foi lá em 2013, quando, durante a graduação, decidiu prestar uma disciplina cujo trabalho final era, justamente, a produção de uma cerveja.


Como foi o seu primeiro envolvimento com cerveja artesanal?

Foi mais ou menos na primeira metade da faculdade, ali em 2013, em uma matéria que se chamada Fundamentos da Produção de Cerveja, se não estou errado. Até esse momento, eu nem sabia o que era cerveja artesanal direito, para ser sincero. Escolhi fazer essa matéria porque fiquei interessado em produzir a bebida. No dia que fomos produzir, achei o processo muito legal me interessei ainda mais pelo assunto.

Lembra qual cerveja fez?

Foi uma IPA com maracujá. Minha lembrança é de ter ficado bem boa. Só havia tomado uma ou duas na vida até então. Dali em diante comecei a estudar por conta própria, fiz alguns cursos que, naquela época, eram ainda mais escassos e, na UnB, comecei a procurar matérias que pudessem dialogar de alguma forma e ser aplicadas ao meio cervejeiro, como Microbiologia e Tecnologia de Produtos Agroindustriais, por exemplo.

E como começou de fato a vida de cervejeiro caseiro?

Depois de concluir essa matéria, ganhei de presente um kit de produção de cerveja e, periodicamente, conseguia reunir um grupo de amigos para produzir. Como disse, a primeira cerveja que fiz na vida foi uma IPA, mas a que mais fiz enquanto caseiro, cada vez aprimorando a receita, foi uma Witbier.

Mais adiante, o futuro supervisor de produção da Cruls fez também o curso de Tecnologia Cervejeira a fim de aperfeiçoar o conhecimento de processos da indústria. Ao concluir, recebeu o convite de um colega para ser o instrutor de cursos para cervejeiros caseiros: durante um período do dia, ministraria a parte teórica; no outro, faria a brassagem, finalizando com o envase para que todas alunas e todos alunos passassem pelo rito completo.


Durante esse período como vendedor de insumos e consultor de caseiros, por assim dizer, uma vez que os auxiliava na construção de receitas e dicas de brassagem, Montes se formou também em sommelier de cervejas: chegou a fazer freelas em bares, com atendimento ao público, deu aulas em outra instituição, estagiou em cervejaria... até que viu uma vaga abrir na Cruls.


Como foi o processo de entrada na Cruls?

Em 2018, a Cruls abriu uma vaga para assistente de produção. Eu já conhecia o pessoal da cervejaria de tanto que frequentava eventos cervejeiros da cidade. Em todo evento, procurava a Kombi da Cruls para beber a Red IPA, que era uma cerveja que eu adorava. Cheguei a ir à inauguração da Cruls no evento de lançamento da marca. Quando divulgaram a vaga, me inscrevi e passei. Lembro que, quando a cervejaria ganhou medalha no South Beer Cup com a APA, eu tinha acabado de entrar. Vivi essa experiência como parte da equipe. Não brassando esse lote vencedor, ainda, mas já do lado de dentro.

E como foi essa experiência inicial como assistente de produção?

Minha busca principal sempre foi começar a caminhar pelos estágios iniciais, mais básicos, para participar de todos os processos possíveis. Aprendi muito com o Sebastião no que diz respeito a chão de fábrica, manutenção de equipamento, envase de barril, etc. Já no que diz respeito a produção, aprendi muito com o Rodrigo [Braga, sócio fundador da Cruls], que era o mestre cervejeiro na época. Uma das vantagens da cervejaria nessa época é que éramos muito pequenos, então estávamos todos envolvidos em todos os processos.

Montes conta que, em dezembro daquele mesmo ano de 2018, já aprendeu a tocar a brassagem sozinho e que, em dias de produção, por conta do tamanho das panelas de brassagem (500 litros), era preciso fazer duas bateladas para encher cada tanque de 1 mil litros da então adega de quase 8 mil litros da antiga fábrica da Cruls. Ou seja, com três cervejas sendo produzidas semanalmente, 6 bateladas eram feitas a cada 7 dias.


Atualmente, nossas panelas de brassagem têm 2.5 mil litros e nossa adega tem 42 mil. No início de 2019, a fábrica parou para a expansão e mais pessoas foram contratadas para a equipe da cervejaria.

Você viveu todo processo de crescimento da cervejaria, então...

Sim, e fui crescendo junto com a cervejaria. Foi muito importante para meu aprendizado viver o processo dessa forma. Lembro de irmos até Blumenau para ver os equipamentos que iriam para a nova fábrica, fiquei impressionado com os tamanhos. Nós ajudamos com toda instalação, foi realmente bem marcante. Lembro também que, assim como foi na antiga planta, a primeira cerveja a ser feita nos nossos equipamentos próprios foi a APA.

Ele explica que, atualmente, na Cruls, a figura clássica do mestre cervejeiro é dividida em três figuras: ele, como supervisor de produção: Marcos de Paula (já entrevistado aqui no Blog), como gerente de inovação e qualidade; e Gustavo Freitas, como analista de Plano de Controle de Produção.

O que acredita ter acrescentado à cervejaria enquanto supervisor de produção?

Acho que conseguimos implementar mudanças que foram fundamentais para o aumento da eficiência das produções, com redução de horas nas brassagens, por exemplo. Pudemos também sugerir alterações em equipamentos a partir desse conhecimento das operações, fazer a gestão das pessoas para criar um ambiente de trabalho mais saudável para todos. Esse melhor desempenho geral veio muito a partir do melhoramento dos equipamentos, que acabou melhorando todo fluxo de trabalho, reduzindo horas extras e melhorando a gestão de pessoas.

O que você pode dizer a respeito da sua rotina de trabalho?

É bem difícil, não se enganem. É uma posição de muita responsabilidade e que envolve trato direto com produtos, insumos e equipamentos caros. Existe muita pressão, diria que uma pressão inerente ao processo mesmo. É bem mais complexo do que só jogar matéria prima na panela e esperar a cerveja ficar pronta. Além disso, é preciso dizer que, na indústria, todo dia acontece um problema, mesmo com manutenções preventivas. Problemas acontecem sempre e são situações que temos de lidar instantaneamente. Esses problemas acontecem em dias que estamos rodando produção, que tem envase de barril, lata, garrafa, dry-hopping... e não tem como parar. Não dá para simplesmente parar tudo, fazer uma pausa, almoçar e lidar depois. Nesse sentido, digo que é preciso estar sempre atento à gestão e participação da equipe em todas operações. Como não somos uma equipe muito grande na produção, estamos em constante planejamento.


Alguma tarefa preferida do dia a dia...?

Gosto muito de ensinar a fazer as coisas. Sou um grande fã de brassar, claro, tocar a produção, mas gosto muito da parte de adega, da análise sensorial, de testar os lúpulos, e por aí vai...

Alguma dica para quem quer entrar no meio cervejeiro nessa área?

Minha primeira dica é estudar. Não são poucas coisas que é preciso saber e o estudo nunca para. Conheça cervejarias, procure estágios, saiba que chão de fábrica é pesado. Nós fazemos questão de ressaltar isso nos nossos processos seletivos. Não há glamour na vida cervejeira. É aquela história: todo mundo acha legal quando conto o que faço, mas não tem esse charme todo que as pessoas pensam. No dia a dia, tem que estar preparado a lidar com pressão. Façam estágios, comecem como auxiliar de produção e trilhem o caminho completo. Aprendam e vejam se querem seguir. Não adianta só gostar de cerveja.

***


Por hoje é só!


O que acharam da nossa primeira entrevista do Blog? Gostariam de perguntar algo mais específico ao Montes? Já leram a que fizemos com o Marcos? Qual assunto gostariam de ver sendo abordado por aqui? Qual deveria ser a próxima entrevista da Cruls?


Deixem seus comentários aqui no texto ou nas nossas redes sociais!

Tchau!

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